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Democrata chega aos 86 anos (Tim Filho/Assessoria ECD)
por Tim Filho (Torcedor do Democrata, Jornalista e Produtor Cutural)
O Esporte Clube Democrata foi fundado em 13 de fevereiro de 1932, depois que o Ibituruna Foot-Ball Club, time de futebol de Figueira, foi desmantelado. Governador Valadares nem existia, e só iria sugir em 1938, quando Figueira se emancipou de Peçanha.
A origem do Democrata remonta uma terça-feira de carnaval, dia 9 de fevereiro de 1932, quando o Ibituruna Foot-Ball Club foi jogar no povoado da Cachoeirinha (atual município de Tumiritinga). Para chegar até lá, a delegação e alguns torcedores, embarcaram na manhã da terça-feira (9), às 11h, no trem misto M4, na Estação Figueira. Esse trem era a única opção para um “bate-volta”. O trem misto M4 chegava em Aimorés às 17h40 e ficava por lá para o pernoite, mas a delegação figueirense teve a opção de voltar no mesmo dia, no trem de passageiros P1, que saiu de São Carlos, às 6h, e passou pela Estação Cachoeirinha logo após o jogo, às 16h58, permitindo o embarque do Ibituruna, que havia chegado às 12h47 no M4.
No “bate-volta” de trem, os jogadores chegaram, trocaram de roupa, foram a campo, jogaram e perderam. De goleada! 5 x 0. O adversário foi o “esquadrão Palestra”, que jogava com camisas azuis e calções brancos, e era um bom time, segundo Malvino Gonçalves Caldas, o Vininho, lateral direito do Palestra, que em 2010, quando relatou a história do jogo, contabilizava 92 anos de vida íntegra, boa saúde e uma memória de dar inveja.
Vininho, que morava na Cachoeirinha e ajudava seu pai, José da Silva Caldas, no comércio, apesar da pouca idade, era bom de bola e teve a chance de jogar contra o Ibituruna. Ele lembra que o técnico do Palestra pediu que ele ficasse mais preso à defesa. Vininho contou que o time de Figueira se comportou muito bem, jogando normalmente, tocando a bola com classe, mas não segurou o ataque do Palestra, levando a goleada histórica. “Os gols foram saindo naturalmente, com o decorrer do jogo”, disse.
Mas a tranquilidade de Vininho para descrever a partida tanto tempo depois não foi a mesma que torcedores e jogadores do Ibituruna tiveram para avaliar a atuação do time. A história contada à boca miúda, desde a época do infortúnio do time Figueirense, é os jogadores que levaram a “sacolada” do Palestra, deixaram se levar pela folia carnavalesca e jogaram bêbados. Vininho contou que em campo, durante o jogo, nenhum jogador do Ibituruna parecia estar bêbado. “Ah, isso é história!”
O desmantelamento do Ibituruna começou na viagem de volta. Os moradores pioneiros de Governador Valadares contaram ao longo dos anos, que Armia da Rocha e Silva, conhecida como “Dona Inhazinha” e cartola do Ibituruna, acabou com os jogadores do Ibituruna. “Ela era muito brava e não admitia falhas do time, por isso ela botou pra quebrar, humilhou todo mundo dentro do trem”, disse o farmacêutico José Simões, pouco antes de seu falecimento, em 1995.
Nasce o Democrata
Em 1932, Agenor Virgílio de Oliveira, um maquinista das locomotivas que transitavam entre Vitória-ES e o Vale do Rio Doce, treinava um time de garotos em um campo de futebol localizado onde hoje está a Rodoviária de Governador Valadares. O comerciante Cornélio Alves, torcedor do Ibituruna, sugeriu a Agenor a formação de um novo clube para Figueira, afinal, o Ibituruna havia sido desmantelado. O novo clube juntou os garotos da escolinha do velho Agenor com alguns atletas do Ibituruna. Cornélio sugeriu o nome: Sport Club Democrata, com as iniciais S.C.D.
Depois, Agenor e Cornélio formaram uma diretoria. Entre os diretores que se reuniam na casa de Agenor estavam Chaim Salomão, Mário Rocha e Silva, Lauro Pereira, Milton Amado, Antônio Alcântara, Anastas Maraslis, Cornélio Mendes, dentre outros. Agenor também desenhou o primeiro escudo do Democrata, com as iniciais S.C.D. O “S” é o principal elemento tipográfico do escudo, com a letra “C” dentro da curva superior, e a letra “D” dentro da curva inferior. Este escudo foi usado nas camisas dos jogadores que estão na foto em pose de “pirâmide invertida”, formação clássica dos times de futebol nos anos 1930, não só para a pose, como no esquema tático.
Milton Amado (de terno escuro e chapéu) com o time do Esporte Clube Democrata no começo da história do clube valadarense (foto: Arquivo pessoal Tim Filho)
Na foto acima, aparecem embaixo, o goleiro (que naquela época era chamado de goal-keeper ou keeper) e os dois zagueiros. Acima, na outra linha de três, ficavam dois laterais e o centro-médio (center-half). Na linha de cima, com cinco homens, os pontas direita e esquerda, dois atacantes (interno e externo) e o centroavante. Os primeiros a usar o uniforme com o novo escudo foram: Chaim Salomão, Melanton, Pedro Pinto e Laudelino; Hércules e César Simões; Adhemar, Didinho, Raymundo Simões, Cid Pitanga e Ulisses Amado.
O mascotinho Heitor, vestido de corvo, segurando a réplica da primeira camisa do Democrata de 1932 (foto: Tim Filho/Assessoria ECD)
Entre os fundadores do Democrata, a figura mais ilustre é de Milton Amado, intelectual muito respeitado nos meios acadêmicos, especialmente no Departamento de Letras Modernas da USP. Ele nasceu em 1914, em Figueira. Estudou em Vitória, ES, e depois foi trabalhar como jornalista e assessor de imprensa do Palácio da Liberdade. Traduziu várias obras da literatura mundial, de autores como Miguel de Cervantes, Dostoiévski e Edgard Allan Poe. A sua tradução mais famosa é do poema The Raven (O Corvo), de Allan Poe. O escritor Érico Veríssimo disse que a tradução de Milton Amado é a melhor já feita para a língua portuguesa. Detalhe: as outras duas foram feitas por Machado de Assis e Fernando Pessoa. Dá-lhe, Milton!