Democrata: “És o orgulho do Vale do Rio Doce”

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Equipe do Democrata de 1932 (foto: Arquivo pessoal Tim Filho)

por Tim Filho (Torcedor do Democrata, Jornalista e Produtor Cultural)

Em 1932, o distrito de Figueira (que hoje é Governador Valadares), tinha dois clubes de futebol: Flamengo Football Club e Ibituruna Football Club, sendo que esse último era uma dissidência do Flamengo. Coube ao Ibituruna defender o nome de Figueira num “derby” regional contra o temido Palestra Itália, o time azul de Cachoeirinha (que hoje é Tumiritinga).

Cachoeirinha vivia se gabando que iria virar cidade primeiro que Figueira, e cresceria muito, mas muito mesmo, porque por lá iria passar a rodovia ligando o nordeste ao sudeste. E se gabava de ter o melhor time, o melhor comércio, e que Figueira seria para sempre um mero distrito. “E vamos ganhar de vocês”, veio o recado desaforado, de lá da Cachoeirinha.

O Ibituruna, então, mordido de raiva, embarcou na Estação Figueira no dia 9 de fevereiro de 1932, às 11h. A conta era essa: sair às 11h, chegar lá às 14h30, trocar de roupa no vapt-vupt, jogar e pegar o trem que vinha de São Carlos, na volta, no mesmo dia, às 16h58. E lá se foram os bravos atletas, comandados pelo delegado de polícia Antônio Alcântara, presidente do Ibituruna, e uma mulher que era mais brava que uma cascavel: Dona Inhazinha Rocha.

A viagem foi numa terça-feira de carnaval e a moçada viajou numa animação sem igual. Ninguém bebeu, mas no sábado, domingo e segunda, entornaram litros goela abaixo. Mas foram lá encarar o Esquadrão do Palestra. Levaram uma goleada: 5 x 0.

“Como é que vocês querem que Figueira vire cidade? Passamos essa vergonha, esse vexame, de graça. Vocês só pensam em beber, beber, beber, dançar e pular. Dançamos todos”, disse Dona Inhazinha Rocha, pagando geral, dentro vagão, na melancólica viagem de volta. Aí começou o bate-boca e a maioria decidiu ali mesmo, acabar com o Ibituruna.

Dias depois, andando ali em um descampado, perto do local onde hoje está a Rodoviária, o maquinista Agenor Virgílio de Oliveira viu um grupo de garotos correndo atrás da bola, sob o comando de Cornélio Mendes. Ficou por lá vendo a pelada e assim que acabou tudo, contou ao Seo Cornélio o infortúnio do Ibituruna, a briga de Dona Inhazinha com os atletas, e o desmanche do time. “Uai, vamos criar um novo clube para a Figueira”, propôs o Seo Cornélio. Seu Agenor topou e disse: “Eu vou desenhar o escudo. Mas qual será o nome?”. Anotem o nome aí, galera: Sport Club Democrata, assim mesmo inglês/português. E as bordadeiras bordaram o escudo com as iniciais SCD, nas antigas camisas do Ibituruna.

O Democrata se impôs, lutou pela emancipação de Figueira (com alguns diretores e jogadores integrando o Partido Emancipador da Figueira). Em 1938, Figueira virou cidade, a rodovia ligando o nordeste ao sudeste passou por aqui, e Governador Valadares passou como uma locomotiva em cima de Cachoeirinha.

Em 1947, o Democrata, de trem, de Maria Fumaça, foi até Cariacica e sapecou o Rio Branco, por 4 x 2. Antes, fez 7 jogos contra clubes de cidades ao longo da EFVM. Ganhou 7 e empatou, recebendo o nome de “Expresso do Vale”.

Vamos aplaudir. Hoje, dia 13/02/2019, o Democrata comemora 87 anos. É o Democrata de Governador Valadares, mas o grito de guerra dos nossos pioneiros ainda ecoa: eira, eira, eira, o Democrata é da Figueira!

Nota 1: As falas de Dona Inhazinha, Cornélio e Agenor, aqui nessa crônica, são fantasiosas, porém, baseadas em relatos de moradores pioneiros da Figueira.

Nota 2: Por que o nome do time é Democrata? O farmacêutico Zezé Simões, pioneiro da Figueira, em 1995, explicou que Inhazinha Rocha era ditadora. Quando o Ibituruna se desmanchou todo mundo queria democracia. Logo, Democrata!

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